Arquivo | novembro, 2011

Calle 13 e os mortos da Lusofonia

18 nov

Eu tenho certa birra com esta coisa do Brasileiro de dar as costas a América do Sul, na verdade a todas as Américas que não sejam a do Estados Unidos. Sao o que chamamos em Relacoes Internacionais de “relaciones especiales”. Grandes porcaria. Historicamente já passamos de traidores a estrábicos a completa cegueira. Desculpo as dimensões continentais, a colonização portuguesa, toda lusofonia e todas as diferencas geridas na distancia. Mas, estamos perdendo na latinidade. E isso fica claro cada vez que alguém troca Bogotá por Miami, Caracas por Orlando, Buenos Aires por Nova Iorque.

Mas bem que podiamos, nao é mesmo?

Wake up Brasil, sejamos locos por ti América. Perdemos bastante em contato artístico, cinema, pintura, literatura e principalmente na Música. Eu sei que existem grandes parcerias históricas, artistas que conseguiram transpor as barreiras lingüísticas e estão ai para provar clássicos feitos em dupla nacionalidade. Ainda sim continuamos perdendo grandes novidades graças aos nossos ouvidos que aceitam melhor ao inglês que ao espanhol.

Eu tive a sorte de uma educação trans-fronteiriça, não por mérito, mas porque meus pais me proporcionaram. Mas, devo confessar que quando volto a casa sou uma das únicas entre os meus amigos a dominar o idioma que reina na maioria dos países do meu continente. Ignorava até então um monte de gente que hoje não sai do meu repertorio, músicos que hoje não vivo sem. Letras que não saem da minha cabeça em ritmos castelhanos que embalam meu coração e chacoalham minha mente.

Musica em espanhol é muito legal. Não há nada de brega nisso. Porque brega mesmo é ficar comprando cultura yankee. Melhor escutar Shakira que muita porcaria Made in USA, um pais cujas diferenças sociais em relação a nos são maiores que similitudes. Das relações que mantivemos com os EUA, as alianças políticas, as traições aos nossos hermanos, rixas inexplicáveis, implicâncias infantis, desconhecimento, estamos perdendo o melhor do nosso quintal. Estamos subaproveitando nossos vizinhos e indo buscar cultura cara e pagando o frete para trazer nos musica de segunda mao, comercial, sem identidade cultural nenhuma, em um Mcdonalds musical que nos faz ignorar a verdadeira comida caseira, aquela que fazem nossos ancestrais de maneira lenta e orgânica.

Tatuagem de uma super fan do Calle 13. "Si quieres un cambio verdadeiro, camina distinto."

Chegaram alguns bons músicos, Pachamama Mercedes Soza e Mano Chao, alguma porcaria veio na mala, perdemos Violeta Parra, desconhecemos em grande parte Jorge Drexler, Kevin Johansen, Charly Garcia, Bersuit, Los Fabulosos Cadilacs, Patricio Rey e redonditos de ricota, Fito Paez, Julieta Venegas, Onda Vaga, Rene Ferrer, Lila Downs e tantos outros que minha infinita ignorância musical não me deixar numerar. Não temos Cumbia . Mas temos samba. E assim vamos de Beyonce em Beyonce, ignorando o resto do continente.  Algo chega à conta gotas, uma parceria com Caetano, Chico ou Lenine. É pouco. A verdade é que tem muito brasileiro ainda acha que musica latinoamericana é aquela versão de my Heart Will Go On da Celine Dion tocada com a flautinha andina irritante da feira hippie. No baila en tu cuerpo alegria Macarena…

Esta semana que passou estava vendo o grupo de Porto Rico Calle 13 triunfar nos Grammys Latinos (confesso que me encolhi de vergonha ao ver os indicados Brasileiros) e seguindo-os de perto no facebook. Eles passaram por aqui e eu perdi por falta de dimdim, mas dei uma passada de vista na turnê Latino Americana. Nenhum show no Brasil! Fiquei meio decepcionada.

O Calle 13 é um grupo espetacular que lançou recentemente um single –  de arrepiar  pelos em lugares que você nem imaginava que os tinha – chamado Latinoamérica ( com pequena participacao da Maria Rita!!!), um tributo a esta latinidade que, pelo menos para mim sinto latir cada dia mais como quando leio algum texto do escritor Uruguaio Eduardo Galeano. Além disso, tenho um lugar especial no meu coração que tem algo a dizer quando tem espaço. O Calle 13 está sempre envolvido com uma causa bacana, da qualidade da educação no continente a luta contra o tráfico de pessoas.

Este post é para isso, para quem não conhece ficar conhecendo o trabalho incrível dessa gente. Eu já tenho engatilhado meu par de maracas imaginarias. Adquira as suas e entre no meu concurso de Air Maracas! Esquece Lady Gaga.Atrevete!