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All that Jazz

18 nov

Começa no dia próximo dia 03 o Festival de Jazz de Buenos Aires e eu acho um gancho para falar de um dos (senão o mais) meus estilos musicais preferidos. Existem poucas coisas no mundo que fazem tão feliz quanto escutar um bom jazz. Sou daquelas que fecha os olhos, deixa pender a cabeça e balança os pés em um ritmo semi autista que me deixa anti social durante as Jam sessions. E a Capital está cheia deste som envolvente feita por músicos intrépidos que pelas noites enchem a cidade desse zumzumzum macio. Eu sei que existem centenas de boas casas de jazz na cidade, mas eu mesma só conheço e freqüento algumas. Gosto muito das que são feitas por músicos que se somam depois do trabalho, depois de suas jornadas diárias, como Clark Kents musicais, mudando de identidade para abraçar o jazz como é o caso do Ladran Sancho  (Guardia Vieja 3811) .

Nas Jams, que acontecem as terças feiras, os músicos vão somando-se aos poucos e com uma espontaneidade raramente vista em outros lugares. O resultado é quase sempre espetacular. Eu acho que já falei disso aqui, mas não me esqueço nunca do baterista cotó que fazia com meio braço o que bons bateristas não fazem com dois. Outro lugar muito tradicional na cidade é o Thelonious ( Salguero 1884, piso 1). Um lugar extremamente digno e descolado recebe quase que diariamente jazzeros dos quatro cantos do mundo. Um bom bar para ir de casal, curti um drink, uma aura blasé e escutar um jazz educado. Outra referencia é o espaço Notorious  (Callao 966) que tem uma programação consistente de Jazz e graças à iniciativa Club Brasil, de Bossa Nova também.  Deixo aqui também o jazz que escuto em casa, o canal Accujazz de rádio online com dezenas de variações de jazz para todos os gostos, de todas as vertentes, eras e instrumentos. O menu é de dar água na boca para os fanáticos pelo ritmo. Só saxofone? Tem. Piano? Vamos! Old School? That could be arranged!É uma brincadeira e tanto passar o dia descobrindo os canais do Accujazz. Um must!

As entradas para o Festival de Jazz de Buenos Aires já estão sendo distribuídas/vendidas  no site www.festivales.gob.ar  ou  pessolmente na Casa de la Cultura (Av. de Mayo 575) e no Teatro 25 de Mayo (Av. Triunvirato 4444), de segunda a sexta-feira  de 11 a 19 hs. Além dos recitais, a programação inclui ainda workshops e sessões de cinema. “Personalmente” eu vou atrás das entradas para a abertura no dia 03 de dezembro quando tocam Mingus Dynasty, Frank Carlberg & Christine Correa no Teatro Coliseo.  Acho a voz da indiana naturalizada norte-americana um dos highlights do festival.

Christine Correa: voz sublime, um dos highlights do festival

Deixo aqui um videozinho de Cortázar falando do Jazz. Estou com ele que diz que o “jazz é uma espécie de presença continua”.  Jazz me up Buenos Aires!

Il Ballo Del Mattone

29 set

O nome do lugar é uma homenagem a uma canção de Rita Pavone, Il Del Ballo Mattone (Gorriti 5934), mas a gente se acostumou a chamar-lo de “O bar do Charles”.  Descobrimos uma noite que o moço animado que servia as mesas, Charles, que é a lata do pintor Basquiat, não só era brasileiro como também baiano e uma simpatia. Meus amigos caíram de amores pelo lugar. E, para mim, posso apontar o exato instante em que isso me sucedeu. Foi quando eu entrava nesta sala cheia de pinturas caóticas e street art e a cantora começou a entoar Night and Day do Cole Porter. É isso para mim: um lugar cheio de grafite, boa gente, vinho e comida e Cole Porter! Já tá bom para mim, me deixem aqui, avisem os meus que não volto para casa, que não vou ao mestrado, que não regresso ao meu país. Vou ficar encantada na Argentina, tomando vinho, olhando para o grafite, escutando Cole Porter!

Forno de Pizza: Para fumar um cigarrinho e esquentar o bumbum

Descobrimos “O Bar do Charles” graças ao beau de uma amiga que toca lá nas quartas-feiras. Com o o tempo, fui entendendo sua dinâmica. Na porta quase ao lado funciona um restaurante bem razoável  ( confesso que é a menor cozinha funcional que já vi). O Jazz mesmo acontece nesse cômodo de teto alto, pintado dos pés a cabeça, cujos fundos aprendi a gostar nas noites de inverno quando saía para fumar e esquentar o bumbum no forno de pizza. Na última quarta-feira do mês rola uma festenha. É um ambiente descontraído de pintura e música que começa e termina cedo ( 21h äs 01h30, isso é cedo para los hermanos). Preços razoáveis, comidinha mais razoável ainda. E jazz, jazz na veia. Sextas e Sábados o lugar ganha o auxilio luxuoso de um DJ. É assim como o jantar vira um jantar dançante dependendo da animação dos comensais.

Ballo People

Freqüentando descobri também que existe uma galerinha bem típica do Ballo. E fuçando descobri, vejam só: Il Ballo Tv, com direito a programa de rádio ( na Rádio Palermo, mãe de todos os projetos alternativos e comunitários em Buenos, sexta s de 17hs a 19hs, FM 94.7) e videozinhos descolados. Vale a pena conferir AQUIIII!!!!

Tu Vuò Fa L'americano...

É mesmo um pedaço de Little Italy, mas aquela do tipo felliana, com vintage art, macarrão, música e personagens oníricos. O tipo de anormalidade que me parece normal. Li na internet um depoimento do dono que fez com que entendesse melhor o Ballo, um lugar feito para ser bagunçado, invadido, dominado. Casa dos artistas locais, o Ballo tem mesmo algo de casa do nono. “Después de sufrir una enfermedad muy grave, pensé en crear esa jornada para festejar la vida”, dice Francolini. “La enfermedad hizo que cambiara mi visión de la vida e influyó en la manera de manejar el negocio. Ahora, las decisiones pasan por el corazón y no por la economía”.

Fica minha dica de mais um lugar descolado e pulsante em Buenos Aires. Não tem como se arrepender. Tu Vuò Fa L’americano…

Buenos Aires Ink

7 jun

Arte na rua

Quando visitar Buenos Aires não deixe de ir aos Museus. A cidade tem um excelente de acervo de arte do passado ao moderno. Mas, se quiser mesmo saber o que acontece neste século, mantenha os olhos abertos pelas ruas da capital.

 

Coletivo Triángulo Dorado, uns dos destaques da cidade

 A cidade está cheia de intervenções urbanas e de nomes que, no olho da rua, emergem da obscuridade para ganhar espaços nas galerias do mundo.

Grafites abundam na capital

Considerada por muitas uma arte insular, marginal e até mesmo excluída da etimologia da palavra, a arte urbana ganha espaço também espaço nos bolsos dos colecionares que se apinham para pagar preços exorbitantes pelas obras do momento como é o caso do grafiteiro Bansky,  que vendeu uma de suas obras por cerca de US$ 244 mil.

Grande mural na estaçao de Carabobo, linha A

O Brasil, à dianteira São Paulo, está na vanguarda do movimento com excelentes nomes despontando no cenário internacional.

Muro pintado pelo artista porteño Jazz

Tomando este gancho, com grandes elogios ao vanguardismo brasileiro, e também da emergente arte na Argentina, o jornal La Nación publicou hoje em sua revista dominical um importante tratado sobre “la arte callejera”, ou arte de rua, na metrópole argentina. O artigo conta a estória da arte que vem transformando a fisionomia da cidade e misturando-se a constituição antiga das paredes, colorindo as fachadas e seduzindo os olhares dos transeuntes.

Arte callejera

O carimbo de Buenos Aires – Nas paredes dos becos, muros e metrô da capital abundam os estênceis,impressões com pequenas mensagens, políticas, humorísticas ou mesmo publicitárias que como um carimbo urbano sobre o concreto colorem os espaços cosmopolitas de Buenos Aires.

Estencil bem humorado

Sorria: a cidade está cheia de estenceis

Entre os grafiteiros, os destaques do artigo vão do colombiano Rodez (cuja obra eu tenho prazer de dizer que está literalmente debaixo da minha janela, na Pasaje Luis Dellapiane), Sego, do México ( cuja a obra eu tenho o prazer de relatar que está de frente a minha janela) aos argentinos Jazz , cenógrafo e muralista, Pum Pum ( argentina aficionada por Clarice Lispector, que tem coisas muito boas, outras que, pessoalmente, são muito Romero Britto para minha pessoa) e o coletivo  Triángulo Dorado, entre inúmeros outros  que por minha ignorância cometo o sacrilégio de não citar.

Grafiteiros dao um "facelift" ao Centro Cultural de Espanha, em San Telmo

Embora, seja impossível apontar os melhores lugares para se ver as inusitadas obras de arte pela cidade, existem alguns murais que já fazem fama na cidade e outros que, são meu xodó pessoal.

Buenos Aires Ink

 Entre as minhas tchuchucas da arte moderna preferidas estão o meu próprio quintal, a Pasaje Luis Dellapiane, entre as ruas Viamonte e Tucumán, o enorme mural na linha A do metro na estação de Carabobo, o muro da rua Castillo, altura 1400, e a o Centro Cultural de España em Buenos Aires ( Balcarce, 1150, San Telmo) , que recentemente recebeu roupagem nova de grafiteiros do mundo inteiro por ocasião do encontro de intervenção urbana intitulado Sin Verguenza.

O carimbo da cidade

Para estênceis não há um ponto de referencia, eles estão por todos os lados, muitos nos metrôs e nas ruas mais descoladas de Palermo Viejo. São eles os responsáveis por arrancar sorrisos inusitados naqueles dias em que a cidade te devora com mil dentes, proporcionando surpresas urbanas para o coração apressado pelo ritmo do concreto.

Detalhe do mural de Carabobo

Para um tour completo do melhor da arte de Rua em Buenos Aires, vale à pena contratar os serviços da Graffittimundo, uma empresa criada por duas inglesas apaixonadas pelo grafite da cidade, que recorrem as ruas de Palermo, Colegiales e Villa Crespo em buscas dos mais impactantes marcos de arte urbana da cidade. O tour custa cerca de R$ 35 reais e inclui os trajetos de taxi e uma cervejinha no final. Clique Aqui!

Pum Pum, buena pero no siempre

O melhor da popularização da arte urbana é evitar que ela se perca, como milhares de murais soterrados por tinta e ignorância que já padeceram nas grandes metrópoles do mundo. Democrática, gratuita, moderna e inesperada a arte urbana em Buenos Aires colore as velhas calles de novas idéias. Abra o olho para o Buenos Aires Ink!