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Si yo fuera Maradona

15 jul

La vida es una tómbola… de noche y de día…
la vida es una tómbola y arriba y arriba….

* patrocinio Jackson do Pandeiro.

Te bancamos Dieguito!

6 jul

 

A Argentina saiu da Copa com um vergonhoso quatro a zero.  Fosse essa seleção a brasileira, podiam esperar alguma espécie de linchamento na volta do Mundial, seja físico ou moral. Dunga voltou ao Brasil totalmente desacreditado, com fama de cabeça dura, a mercê da execração pública. Os jogadores, como Felipe Mello, ao retornarem a casa foram recebidos por piadinhas no aeroporto internacional. Julio César chorou no colo da mãe.  Aqui, no entanto, a banda toca um pouquinho diferente.

Chegada da selecao argentina

Embora Maradona quase não chegasse para a entrevista coletiva pós-jogo tamanho era o surto de choro que se seguiu após a contundente derrota, não tem mais motivos para o pranto. Ontem, durante sua chegada em Buenos Aires, a seleção argentina foi recebida como heróis. Milhares de pessoas foram receber-los vestidos d e branco de azul celeste agitando bandeiras, chamando os nomes dos jogadores, agradecendo pela participação na Copa. Existem claro serias distinções. Dunga é Dunga. E Maradona é Deus. E Messi, Messias. O primeiro jogador argentino a integrar o Olimpo dos melhores jogadores do mundo depois de um longo jejum.  Maradona tão salvador da pátria quanto San Martin, que liberou o país dos espanhóis.

Dieguito agora decide se quer ou não continuar ä frente da seleção. Dunga não terá o mesmo direito de escolha. Sairá pela porta do fundo com fama, mas sem glória. Todas as características do treinador que antes pareciam a heróica resistência pela qual torcíamos, agora são as maluquices de um técnico turrão, que não escutou nem a Globo! Os grandes especialistas Galvão Bueno, Casagrande…

Populismo? Imagina, que maldade!

Esta tarde, a presidente da Argentina, Cristina Kirshner, seguindo a onda popular de “te bancamos Dieguito” disse querer receber o técnico e os jogadores na Casa Rosada e chegou a afirmar que nenhum argentino deus tantas alegrias a Argentina quanto Maradona.

Dios!

Exagero típico argentino claro. O fato é em jogos, como as quartas de final da Copa do Mundo, só existem duas opções: ganhar ou perder.  E argentinos tentam ser bons perdedores, pelo menos aqui dentro ( embora ninguém queira discutir os deméritos em si). A meu ver, a condecoração deveria vir do mérito de haver tentado. Essa linchamento público não é legal. Estou com o Dunga que demonstrou ser humano ficando puto com os jornalistas da Globo. Don’t hate the player, hate the game.  E uma última nota: Diego te banco a muerte!

Porque esto es Africa!

4 jul

 

Essa Copa nos jogou inesperadamente em uma montanha russa emocional.  E eu não vou mentir de certa maneira estou aliviada que ela tenha terminado também hoje para Argentina. Não porque eu não achasse que eles mereciam quebrar o Jejum de tantos anos e sim porque, morando em Buenos Aires, este Mundial estava mexendo com os nervos de nós brasileiros apaixonados por nossos vizinhos. Não é segredo minha paixão pela Argentina ao passo que vou desnudando seus mil véus castelhanos.  Tenho feito um esforço permanente para desmitificar clichês em relação aos hermanos, quebrar paradigmas, diminuir essa inexplicável animosidade entre o Brasil e a Argentina que não encontra terreno tangível se não no Futebol.

Por isso, esta Copa não veio, como dizem por aqui, en hora buena.  Levamos a primeira parte dos jogos com leves provocações, desejando sorte mutuamente e exaltando as qualidades do futebol argentino e brasileiro. No Kiosko aqui em frente, onde compro meus viveres ( e por viveres entende-se meu kit ressaca), eu e Jorge, o dono, trocamos  todo tempo impressões e terminávamos nossas conversas com um longo gesto com as mãos e um “nos vemos em la final”. Tudo numa boa e seguida das deliciosas gargalhadas do meu amigo. Mas, nos últimos dias tudo isso mudou.

Manha de ontem na Plaza San Martin

Confesso: cheguei a torcer por eles. Na verdade, torcia pela gente maravilhosa que conheci. Torcia para que esse país, que já teve seu quinhão de sofrimento, ganhasse uma alegria. Ontem, fomos a Plaza San Martin, onde um enorme telão foi instalado, para assistir o jogo do Brasil contra a Holanda.  

 

Convenci um monte de amigos a fazer o mesmo. Péssima idéia. Vestimos-nos de verde e amarelo, como faríamos se estivéssemos em casa, e rumamos cheios de esperança ao bairro de Retiro. Até o clima colaborou. Depois de uma semana de frio intenso, a temperatura estava super amena. Chegamos em clima de festa numa praça vestida de canarinho. O resto é história.

Torcendo em Buenos Aires

No fim do jogo, quando arrastávamos nosso corpo desiludido em direção a rua, passamos por um corredor polonês de provocações, insultos e comemoração argentina que me fez crer em todo aquelas arquétipos ridículos que muitos brasileiros cultivam em relação à Argentina. Briga, bate boca, barraco! Tirei minha família em visita á Capital de lá sobrecarregada por um recém adquirido sentimento de vergonha e desmoralização. Saímos todos para comer no El Cuartito, uma pizzaria bem tradicional em Tribunales, perto de onde vivo.

 Outra péssima idéia.  Ao entrarmos no restaurante, fomos recebidos por inúmeros olhares de deboche, risadinhas, entre outras ofensas. Sem contar que nos tornamos atração no salão. Passamos como Moisés abrindo o Mar Vermelho.

Durante todo o dia de ontem, o jogo foi reprisado em cadeia nacional, criticado, esculhembado, virou motivo de corajosas piadas por parte dos comentaristas, como se a Copa já estivesse ganha. Dormi pe da vida, confesso. Acordei no lado negro da força. E juro que, se não fui a um bar alemão, foi porque não deu tempo. Torci como louca durante a partida. Gritei como um porco no abate a cada gol da Alemanha. Mas, quando finalmente sai de casa, cruzei a rua, e vi a cara inchada de choro do Jorge, tive muita vergonha de mim mesma. Muita. Como foi que eu fui cair nessa de Copa do Mundo? Pior: quando foi que pareceu mais sensato torcer por um time do outro lado do mundo cuja história é mais negra que branca e os laços culturais com minha região tão escassos?

Tristeza inundou as ruas...

Em que momento eu havia inexplicavelmente me voltado contra a gente que me recebeu tão bem, me deu tantas alegrias e, na verdade, é mais abundante em similaridades do que diferenças em relação ao meu povo? Eu havia caído no nonsense de uma guerra fabricada pela intolerância esportiva. Um invento, um simulacro, uma batalha imaginária travada na África entre vinte dois homens e uma bola!

Os jornais brasileiros devolveram a gentileza argentina.. Liguei a televisão e vi Carlos De Lannoy, correspondente da Globo aqui, dando entrevista. Claro, diplomaticamente. Mas, sabemos que a coisa vai mal se um jornalista é notícia. Por algumas horas, o burburinho nervoso da segunda maior capital latino americana cessou. Não se ouvia nada na Calle. Era exatamente o mesmo silencio pós- bomba que, uma vez na Espanha, eu testemunhei depois de um ataque do ETA. Um silencioso estrondoso. Numa cidade de tantos ruídos, a mudez é o maior sinal de anomalia que se pode notar.

 Pagaram na mesma moeda

Duro golpe para Dieguito, no me gusta...

Não foi fácil ver Maradona choroso durante a obrigatória entrevista coletiva. Eu já disse antes e repito: a-do-ro Dieguito. Num mundo dominado por pessoas genéricas, de opiniões e comportamento similar, a humanidade do craque é um alivio. É gente que erra. Gente que se reinventa. Gente que, desculpem o linguajar, faz merda. Poe a cara a tapa. Depois, levanta sacode a poeira e dá a volta por cima. O tal do politicamente correto é um deserviço para humanidade.

Tadinho!

Ainda que ele, traído por sua vaidade e arrogância, mereça um pouco das lições amargas que a vida lhe dá. No entanto, vivendo aqui, entendo que é fácil se deixar levar pela megalomania argentina. De maneira distinta, somos megalomaníacos também. Só que aqui se sente com as entranhas. Posição geográfica, condicionamento histórico ou mania de grandeza mesmo, a Argentina jamais se verá do tamanho que é. E isso, a meu ver, é uma qualidade. Sonhar-se grande é condição si ne qua non para ocupar uma posição de grandeza.

Cena de fim de tarde na Plaza Armenia

Meus amigos argentinos ficaram realmente sentidos e diminuídos com a derrota. E eu por eles. Nas ruas, o clima foi durante parte da tarde de funeral. Depois, aos poucos, foi retornando a normalidade. Fiz algumas piadinhas, mas depois saquei que não era legal. Eles não ganham uma Copa desde 1986. E, com as presenças de heróis como Messi e Tevez, estavam certos que havia chegado a vez deles. No fim da tarde, na Praça Armenia, em Palermo, me deparei com a cena insólita. Um pai ensinando com incrível dedicação o filho, uma miniatura de Messi e usando a camisa do craque, a jogar futebol.

O sol se punha e aquela cena ia me fazendo com que eu também entrasse no crepúsculo do fim do dia. Eu ia encontrando um país tão aficionado pelo esporte quanto o nosso, apenas com muitos êxitos a menos. Lembrei dos descampados nas favelas, os campinhos de bairro, escolinhas de futebol, quadras poliesportivas, gols improvisados, chão batido e milhões de crianças dando seus primeiros chutes no Brasil. Porque esto es Africa también…