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Os “melhores” restaurantes de Buenos Aires

31 maio

Para mim esse negocio de “o melhor” nao existe. O melhor restaurante é a o Boteco da esquina, com aquela cozinheira gorda e feliz que se senta a sua mesa para conversar ainda com o pano de prato pendurado no ombro e se despede rápido porque as “panelas estao no fogo”, um dinossauro de garcom, mau-humorado e humano, genial e genioso, aquele que te serve aquele paozinho de cortesia e faz um comentário sarcastico. O melhor restaurante tem habitués soturnos e tao frequentes que aparecem para comer vezes mais que o gato da casa.

La Cabrera, é uma dica bacana.

O melhor restaurante está perto de casa, ou em uma cidade pequena que brinca de esconde esconde desviando-se das principais estradas que levam a capital, é abundante e nao está interessado em ganhar estrelinhas (Michelin) no caderno.

“O melhor restaurante é a o Boteco da esquina.”
Parrilla San Cayetano, meu restaurante de Barrio, para sair defumado, feliz e sem ter que pedir um emprestimo do FMI para pagar o jantar. Arenales 3100.

Mas, vira e mexe, algum jornalista aparece com seu dedo de deus para nomear “os melhores” em uma olimpiada gastronomica cujo jure é uma banda de um homem só. Deixo aqui a matéria do Globo, sobre os supostos melhores restaurantes de Buenos Aires. E como a questao aqui é opiniao, vou ter discordar da sugestao do Café des Arts que é caro, pretencioso e nao tem nada , digo nada demais a nao ser o fato de estar no belissimo Malba, que alias merecia uma proposta gastronomica mais interessante.

El Pobre Luis

Nao conheco todos os restaurantes da matéria porque, em alguns dele, voce precisa empenhar a mae por um bife, mas concordo com a sugestao do La Cabrera e El Pobre Luis.

Dicas sao dicas. Mas o melhor mesmo quando voce descobre algo que nao está no roteiro, sou favoravel a uma Buenos Aires off road. Faca a sua!

DEIXO AQUI A MATÉRIA DO GLOBO SOBRE “OS MELHORES” RESTAURANTES DE BAIRES.

 

O último Tango em Baires

15 maio

No importa cuánto tango hay en tu vida, sino cuánta vida hay en tu tango.”

Depois de minhas primeiras aulas de tango logo quando cheguei aqui, ficou bem claro para mim que um chimpanzé desliza com mais leveza sobre a pista que eu. Incapaz de caminhar e mascar chiclete ao mesmo tempo sou uma dessas pessoas cuja coordenação monotora bate na trave num psicotécnico. Tenho certeza que meus pais colocaram mais ênfases em meu desenvolvimento intelectual que o motor. Aos seis anos eu lia o Manifesto Comunista em Quadrinhos e dava discursos ao proletariado imaginário, mas era incapaz de subir uma escada e falar ao mesmo tempo. Pobre de mamãe e papai me tornei aquela pessoa que quando passa derruba tudo e deixa um rastro de destruição a sua volta mas sem me transformar em cientista nuclear em troca.

Por isso, depois de apenas umas poucas classes dei adeus ao sonho de dançar tango. E , para ser sincera, deixei de dar bola para o gênero. Ei, se não posso dançar não é minha revolução, copia?

Um tango pode ser modernoso…

É um pouco meu momento What da fuck quando chegam as visitas ávidas por um tango a la Brodway com direito a brilhantina, meia arrastão e ingresso em dólares.Não vou,  não pago, te levo ao taxi na esquina, faço até a reserva. Mas, confesso não é a minha. Não é preconceito, alguém já viu algum carioca que curta dar uma de turista num show de mulatas passistas?

Para quem acha que é mole!

Eu sei que o tango vai muito além disso. E tenho amigos que sabem do que estou falando, entendem de tango. Vide minha grande amiga Gisele Teixeira e seu super blog, isso sim é uma especialista. E ainda bem que existem os especialistas. Não é meu caso. Adoro ver um casal de velhos amantes zigzaguear pela pista num clube de bairro. Algo dentro de mim treme com um velho Piazolla. Mas isso é tudo.

Um bom Piazolla…nao gostar é como desprezar uma noite de lua cheia…

Com respeito a velha alma Argentina você terá minha companhia em algumas poucas ocasiões. Nas quartas-feiras no CAFF, para beber até o sol raiar na Peña del Colorado (lembrem-me de fazer um post sobre este lugar), se eu não tiver que trabalhar no dia seguinte na Catedral do Tango, se eu estiver num espirito aventureiro no Lo de Roberto. Que ninguém me interprete mal, não há como não amar o tango. É como não gostar de ver um belo por do sol. Talvez Borges, mas ele era um esnobe.

Mas é possível que eu te siga fácil em um bom show de uma orquestra de tango eletrônico (como te seguiria para qualquer milonga underground). Eu sei que tem muita coisa boa que ficou enfadonha virando musica de novela, propaganda de perfume, mas eu adoro um somzinho diferente. E boa coisa para bloggeiros preguiçosos e ocupados como eu é quando os grandes amigos jornalistas decidem escrever algo sobre o assunto te poupando de toda a pesquisa. Foi o que aconteceu hoje com a ótima matéria da minha amiga Marina Mota, um belo inventário sobre o estilo.

Deixo Marina e seu decibéis tangueros publicada no Valor Economico AQUI!

Feira do Livro de Buenos Aires: Prazeres mundanos e intelectuais

24 abr

É sempre especial estar em Buenos Aires na época da Feria Del Libro. Tenho memórias antológicas de ocasiões especiais passadas a sombra de La Rural, na Plaza Itália, como o show do Caetano Veloso a dois anos atrás na abertura da Feira. Caetano lotou a Av. Sarmiento em um dos meus momentos mágicos de minha estádia por aqui e fazendo portenhos cantarem como nunca.

A Feira do Livro em Buenos Aires é definitivamente um dos eventos mais esperados do ano no meu calendário.

Domingo vivi mais um grande momento antológico durante minha primeira visita a feira. Eu e outras milhares de pessoas assistimos a palestra de uma das vozes mais lúcidas do século durante mais de uma hora e meia de puro, puro, puro deleite intelectual. Não vou negar que um dos meus momentos históricos favoritos dos últimos anos é a entrega do livro A veias Abertas da América Latina por parte do presidente Venezuelano Hugo Chávez ao yankee Barack Obama.

O rock star das esquerdas Eduardo Galeano é um dos meus escritores favoritos e pelo visto das massas portenhas também.

Ontem, milhares de pessoas aguentaram a primeira onda de frio outonal e filas kilometricas pela chance de ouvir por um par de horinhas as palavras de um homem que acredita, como eu e tantos outros eternamente indignados, que o mundo está de pernas pro ar.

Valeu cada minuto, mestre Galeano.

Difícil definir quem ouvir, o que comprar, quem ver , como o festival de cinema de Buenos Aires, o Bafici, você pode terminar assistindo a algo tão enfadonho como uma ida ao dentista, um filme iraniano que trocaria por duas horas de câncer, ou a palestra da sua vida, uma orgia literária de orgasmos múltiplos como a exposição de Eduardo Galeano domingo, que fez meu lado velha esquerda, militante de mesa de bar saltar de prazer marxista.

Dando uma breve olhada nos convidados internacionais, na minha agenda pessoal e intransferível, minhas recomendações ficam com a palestra do escritor mexicano Carlos Fuentes (01 de maio) e uma escritora que eu acho bacaninha, Sandra Cisneros (05 de Maio), Americana. Mas fora isso tem todo o zum zum zum da feira, as jornadas literárias, os cursos, firma de livros e o delicioso bel bar niente do turismo entre os stands, soltando o cartão de credito por uma boa causa.

Não vou negar que se antes tinha paciência para longas jornadas com nomes pedantes e minúcias literárias tipo Borges- Kafta, similitudes estéticas ( estória real)…hoje me entrego sem culpa aos prazeres consumistas de comprar um bom livrinho ilustrado com projeto gráfico impecável por 100 pesos ao invés de 5 exemples dos clássicos da literatura de bolso no monte a granel.

Carlos Fuentes, imperdivel.

Menos Checov e mais quadrinhos, minha verdade senhores é essa. O ultimo livro sobre Grafiti em Buenos Aires, a nova edição de um clássico beatnik Japonês, aquele livro de receitas Gregas…

Meu negócio com a feira agora é cavucar. Você irá me encontrar agachada entre as prateleiras estranhas como de literatura infanto juvenil tentando encontrar acocorada o ilustrador perfeito entre montanhas de entulho literário, ou barganhando por livros de autores desconhecidos e títulos estranhos.  Eu definitivamente já tenho os clássicos e, verdade seja dita, faz muito tempo que um escritor contemporâneo nao faz girar meu mundo. Durante meu breve tour domingo, ainda passando por espasmos intelectuais pós coito após a palestra do Galeano, encontrei umas perolas.

Durante meu breve tour domingo, ainda passando por espasmos intelectuais pós coito após a palestra do Galeano, encontrei umas perolas como o livro La Venganza Inmortal. Um layout de morrer...

Tenho que confessar sair de lá a feliz proprietária de um livro sobre Mandalas ( que veio com lápis de cor para colori-las) e um manifesto de ódio muito bem editado contra os ex namorados.

 

 

La Venganza Inmoral, tipo de prazer mundando que ando privelegiando sobre os prazeres intelectuais...

Quem nunca cantou “você pagou com traição a quem sempre te deu a mao” que atire a primeira pedra. O livro La Vengaza Inmortal é um típico exemplo do que busca “Gaby” na feira do livro. Estou sempre atenta atrás de uma esquisitice para me resgatar do mundo das anêmonas e Best Sellers. O projeto gráfico tchutchuca, ilustrações geniais e uma compilação de frases venosas que internautas deixaram na pagina (que acho está fora do ar) WWW.dejaleunmensajeatuex.com fazem da primeira compra na feira este ano um achado.

Sinto sua falta, mas meu cartão de crédito não.”

“Me devolve o cachorro, quem o pagou fui eu.”

“Durmo em uma penthouse no 11 andar com vista para rio. E você como anda?”

“Você sempre me dizia que eu merecia algo melhor. Voce tinha razão.”

Tudo isso em letras garrafais, ilustrações de morrer por meros 30 pesitos.

Com isso termino com minha mensagem e um conselho: vagabundear pela Feira do Livro em Buenos Aires, comprar um monte de besteira, assistir a escritores que já estão dobrando o cabo da boa esperança e aproveitar o clima café literário que invade a cidade esta época do ano.

 

Fechas y horarios

 19 de abril al 7 de mayo de 2012

 La Feria está abierta para todo público hasta el lunes 7 de mayo, feriados inclusive, y en los siguientes horarios:

 ◦Domingos a jueves, de 14:00 a 22:00

◦Viernes y sábados, de 14:00 a 23:00

◦Domingo 29 de abril, de 14:00 a 01:00, horario extendido

 por celebrarse La Noche de la Ciudad en la Feria del Libro

◦Lunes 30 de abril, de 14:00 a 23:00

◦Lunes a jueves: $20.

◦Viernes, sábados, domingos y feriados: $26

Boemia Peronista

8 mar

"Sabemos perfeitamente que o peronismo nao se proclama e nem se aprende. O peronismo se sente e se comprende".

O jornal La Nacion publicou uma matéria ótima hoje sobre os bares Peronistas de Buenos Aires. Nao deixam de ser bares temáticos. Mas, sinceramente, os que visitei eu gostei. Acho super válido para quem vem a cidade e quer entrar na vibe Evita-Perón. Até porque até para os Argentinos a proposta nao deixa de ser interessante. Eu já tentei abordar o tema peronismo aqui no blog em algumas instancias (sempre cheia de dedos!!!). Perón n Bossa , Perón y Eva  , Viva PerónA intensa vida de Evita depois de morta , etc!

Mas legal mesmo é curtir um poco de historia, tomar um café com Evita, bater um papo com Perón. Eu adicionaria á nota o belo patio do Museu da Evita que nos dias de sol é uma bencao!

Deixo aqui a nota do La Nacion, com mapinha e tudo!

Imperdivel!

Malvinas: a Dama de Ferro, Príncipe William e toda a fumaça

1 fev

Nos últimos tempos, vimos por aqui reacendidas as tensões entre Argentina e Inglaterra com relação as ilhas Malvinas. Para quem não conhece um pouco de historia Argentina ( e isso não é um julgamento), as ilhas Malvinas são um arquipélago bem ao sul do pais que há séculos anos sofrem ocupação inglesa. Os kelpers, moradores das ilhas, se consideram ingleses. Os ingleses dizem que quem decide sao os kelpers (direito a auto determinação dos povos), a Argentina os chama de colonialistas e o circo está armado há mais de 150 anos.

“Extra , Extra! Estamos em guerra”

O que quer a Argentina com uma ilha perdida em uma região inóspita do planeta. Um lugar de temperaturas extremas cujos habitantes deveriam resumir-se a pingüins resistentes ao frio. A perda das ilhas é mais que uma ferida no orgulho nacional, é uma amputação territorial que resvala na soberania nacional para Argentinos. E o que querem os Britânicos? Sob um argumento de autodeterminação dos povos, estão poços de petróleo, posição estratégica, etc. O povo da Índia, que por muitos anos foi sucessivamente saqueado pelos ingleses, nunca teve direito a auto determinar nada. Dois pesos duas medidas, Inglaterra.

E os argentinos chegaram a acreditar que os ingleses nao viriam...

A verdade é que as grandes vitimas são os moradores da ilha ( vale a pena conferir o jornalzinho local PENGUIN NEWS!!!!!). Que ficam no meio do fogo cruzado, vivendo na parte da ilha que não tem minas (sim porque se Argentina minou, os Britânicos nunca quiseram pagar a conta caríssima para a retirada), ilhados onde nem as focas querem viver.


Em 1983, uma ditadura agonizante usou como medida para ganhar popularidade a invasão das ilhas. A Guerra das Malvinas causou mais 600 mortos argentinos, acirrou a disputa e deixou uma fratura na alma dos Argentinos. A boa é que a ditadura caiu. Veteranos reclamam até hoje o reconhecimento do Estado. A história completa tem requintes dramáticos, relatos trágicos, sangue, suor e lágrimas. Existe muito material para entender o pouco mais o estado de espírito argentino em relação a Guerra das Malvinas que este ano cumpre 30 anos. Um jeito bacana de ler algo é o belíssimo Fantasmas das Malvinas e assistindo o ficcional Iluminados por el Fuego.


No youtube abundam documentários, imagens e filmes bacanas sobre o tema. Hoje, argentinos tem mais uma razão cinematográfica para ficarem sentidos: estréia no país o filme Dama de Ferro, uma biografia de Margarete Thatcher que traz o momento em que a chefe de estado Britânica decide invadir Malvinas, ou Falklands, como eles chamam.

Mau momento, com o príncipe William desembarcando nas ilhas hoje, poços de petróleo sendo destapados por ingleses todos os dias praticamente, navios de guerra britânicos novos chegando ao arquipélago, diplomatas trocando gentilezas dos dois lados, nas ultimas semanas os Argentinos viram uma escalada de tensões que teve seu cume estes dias. Os jornais de hoje pareciam aquele “ Extra , Extra! Estamos em guerra” das décadas passadas. Improvável, mas tem muita fumaça!

Todos ao Barrio Chino!

22 jan

Meio em cima da hora. Mas aqui vai a dica: se você está hoje em Buenos Aires, o lugar para estar é o Bairro Chinês onde se comemora o ano novo hoje. Passei ontem para uma previa e estava lindinho, lâmpadas chinesas até na estação de trem,  comidinhas, barraquinhas de coisinhas, fofas, apresentações e o famoso dragão chinês desfilando. Dizem que a idéia é tocar o dragão apara dar sorte.

Ano novo chino em Belgrano, cheio de comidinhas.

Sorte para tocar-lo, pois a multidão que se instala no Bairro também está tentando fazer o mesmo. E o Barrio Chino é um dos meus lugares preferidos em Buenos Aires. Confira o que eu escrevi sobre este cantinho especial da cidade AQUI! Hoje, fica lotado. A boa noticia é que a festa se espalha por Barrancas de Belgrano, desafogando um pouco as estreitas ruas de Juramento, Arribenos e Montaneses. Em Barrancas ontem, a Glorieta esta lotada de tangueros movendo-se ao som do ritmo.

 

Barrancas de Belgrano lotada, uma previa para hoje.

 

As linhas de ônibus 15, 29 e 64 te deixam na porta da festa. Outra opção é o trem que sai de Retiro. Para quem pode pagar o taxi, a opção é pedir para descer em Arribenos e Juramento, ou mesmo em Barrancas de Belgrano. A linha D do metro te deixa a algumas quadras na estação de Juramento, é só descer em direção a Barrancas.

Estacao de trem de Belgrano C, enfeitada para a festa.

Para conferir a programação completa clique AQUI!Atenção se espera chuvas para a capital hoje.

A organização avisou ontem que a festa não se cancela por chuviscos, mas no caso de um dilúvio os chineses radicados na capital terão que suspender a festa.

Barraquinhas, bombando!

Deixo aqui uma previa de como estará o Bairro hoje, fotos de sábado.

Programacao intensa no Bairro Chino.

Buenos Aires Christmas: Roban a Papá Noel, le sacan los renos y exigen rescate

23 dez

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Eu confesso que ainda estou tentando superar a falta do tender. Ficar sem Peru, vamos lá, eu agüento. Mas, sem minha bolinha preferida eu acho cruel. Cade aquela farofa da sua tia cheia de frutas secas e aquele abacaxi de latinha que só aparece para o natal? Eu quero rabanada e todas as 234567890 calorias que eu tenho direito a consumir no aniversario de Jésa. Quero todas aquelas aves gordas e transgênicas que habitam os fornos brasileiros nesta época.

Onde está a nova classe média dando entrevista nos shoppings abarrotados para o DFTV? Como assim não terá especial do Roberto Carlos? Onde foi parar o elenco da Globo me desejando boas festas?Fatima Bernardes, William Bonner, Tony Ramos!Esqueça, pois Buenos Aires parece não estar na rota do Papai Noel, Pólo Norte sacomé, não é a Patagônia.Eu juro que ando tão ocupada com minha recém criada vida de mártir do jornalismo, trabalhando longas horas como escrava branca para um jornal na Capital, que não havia notado o que amigos em visita a capital me fizeram perceber esta semana: Buenos carece de espírito natalino. Sem juízo de valores. Minha mãe nunca cozinhou um peru. Se o cozinhasse não sei se seria capaz de comer a gororoba. Minha mãe não sabe por uma azeitona numa empada. Nós nunca tivemos ceia de natal em casa.  Vivemos da bondade de outras famílias católicas (somos de ascendência judia) todos esses anos, embora eu deva confessar que nunca tenha achado divertida minha vida de penetra. Mas, devo confessar que, a ausência estética do Natal – e conseqüentemente daquela hipocrisia toda natalina que nos acomete nesta parte do ano – eu ando me rendendo a certa melancolia da ausência.

Se no Brasil proibiram os discos da Simone nas lojas, em Buenos Aires parece que Cristina vetou o natal. Claro que burgueses serão burgueses  sempre. E você não irá achar os corredores do Shopping Alto Palermo vazio a esta altura do ano. Mas, eu juro que ainda não ouvi um jingle Bells, nem John Lennon entoando “So this is Christmas”. Vi um ou dois panetones e não sei nem onde comprar pro meu porteiro uma mini cestinha de natal. Até porque quando sugeri para um amigo argentino que lhe iria comprar um vinho ele me advertiu que o meu porteiro talvez visse o “regalo” como um convite erótico. E não penso em me socializar tanto no condomínio.

Não só você não vai escutar trombetas se vier a Buenos Aires nesta época do ano como também não irá encontrar nenhum clima celestial. O espírito natalino fugiu no buquebus. Il fa un caldo de Madonna, como diriam os Italianos. Parece que alguém botou uma tampa em Buenos Aires e deixou a gente pra ferver dentro. Calor tipo Manaus, quente e humido ( pra quem não conhece o bordão da cidade “lo que mata es la humedad!”)

E não tem bonança de quem foi escroc o ano inteiro e decidiu repensar a vida no natal, lideres sindicais convocam enormes manifestações fechando os acessos da cidade, políticos têm ataques verborrágicos, o congresso não diminui a atividade e para completar queimaram a arvore de natal da Plaza de Mayo. Li um relato ótimo de um bloggeiro brasileiro que dizia que não só não tem natal em Baires como queimaram a ultima arvore de natal da cidade em um protesto relembrando os dez anos do Corralito. Foi mesmo uma cena dantesca que eu acompanhei metade da redação e metade na própria Praça. O dia seguinte foi como chegar a Paris depois de um bombardeio Alemão. A arvore carbonizada, as paredes da catedral pichadas, por mais legitimo que tenha sido o protesto, o resultado só solidificou essa “funny feeling” de onde esconderam o natal nessa cidade. Ei, vocês não vão desacelerar não?

Vamos farofar em Mar Del Plata gente, deixar a cidade vazia, comer Peru, escutar Merry Christmas the War is over!Comprar decorações ridículas, encher a casa de luzinhas. Eu nem sou católica, mas vamos la, um pouquinho de espírito natalino não faz mal a ninguém.

PS: O governo reconstruiu hoje a arvore de natal linchada por manifestantes e adicionou presépio ao composé!Vamos ver quanto tempo ela dura nesse Apocalypse now dos pampas.

Perón N’ Bossa

11 dez

 

Quem segue este blog sabe que eu já tentei explicar Peron e o Peronismo sob protestos dos meus amigos argentinos em inúmeras ocasiões frustradas. Se nem os argentinos estão de acordo em uma definição para o movimento, não serei eu, humilde blogeira, a derrotar essa batalha logística.

Ontem, meus colegas acharam engraçado o fato de que eu, uma brasileira, pudesse cantar a Marcha Peronista na integra. E eu lhes contei que era parte do grupo dos estrangeiros peronistas “Peronistas Gone Wild”, piada é lógico.

O fato é que a marcha peronista é o hino da massa argentina, cantado nas celebrações na Plaza de Mayo e em ocasiões como a posse da presidenta eleita Cristina Kirchner que ontem mudou a rotina de um dia de calor na Capital.

Eu tenho gravado no meu computador – para entreter amigos em visita a Maison de Gaby – varias versões da Marcha Peronista, incluindo heavy metal, jazz e até cumbia. Mas, essa aqui, esta perola digo, supera todas.

Divido aqui, Peron N Bossa porque no peito dos desafinados também bate um peronista.

Calle 13 e os mortos da Lusofonia

18 nov

Eu tenho certa birra com esta coisa do Brasileiro de dar as costas a América do Sul, na verdade a todas as Américas que não sejam a do Estados Unidos. Sao o que chamamos em Relacoes Internacionais de “relaciones especiales”. Grandes porcaria. Historicamente já passamos de traidores a estrábicos a completa cegueira. Desculpo as dimensões continentais, a colonização portuguesa, toda lusofonia e todas as diferencas geridas na distancia. Mas, estamos perdendo na latinidade. E isso fica claro cada vez que alguém troca Bogotá por Miami, Caracas por Orlando, Buenos Aires por Nova Iorque.

Mas bem que podiamos, nao é mesmo?

Wake up Brasil, sejamos locos por ti América. Perdemos bastante em contato artístico, cinema, pintura, literatura e principalmente na Música. Eu sei que existem grandes parcerias históricas, artistas que conseguiram transpor as barreiras lingüísticas e estão ai para provar clássicos feitos em dupla nacionalidade. Ainda sim continuamos perdendo grandes novidades graças aos nossos ouvidos que aceitam melhor ao inglês que ao espanhol.

Eu tive a sorte de uma educação trans-fronteiriça, não por mérito, mas porque meus pais me proporcionaram. Mas, devo confessar que quando volto a casa sou uma das únicas entre os meus amigos a dominar o idioma que reina na maioria dos países do meu continente. Ignorava até então um monte de gente que hoje não sai do meu repertorio, músicos que hoje não vivo sem. Letras que não saem da minha cabeça em ritmos castelhanos que embalam meu coração e chacoalham minha mente.

Musica em espanhol é muito legal. Não há nada de brega nisso. Porque brega mesmo é ficar comprando cultura yankee. Melhor escutar Shakira que muita porcaria Made in USA, um pais cujas diferenças sociais em relação a nos são maiores que similitudes. Das relações que mantivemos com os EUA, as alianças políticas, as traições aos nossos hermanos, rixas inexplicáveis, implicâncias infantis, desconhecimento, estamos perdendo o melhor do nosso quintal. Estamos subaproveitando nossos vizinhos e indo buscar cultura cara e pagando o frete para trazer nos musica de segunda mao, comercial, sem identidade cultural nenhuma, em um Mcdonalds musical que nos faz ignorar a verdadeira comida caseira, aquela que fazem nossos ancestrais de maneira lenta e orgânica.

Tatuagem de uma super fan do Calle 13. "Si quieres un cambio verdadeiro, camina distinto."

Chegaram alguns bons músicos, Pachamama Mercedes Soza e Mano Chao, alguma porcaria veio na mala, perdemos Violeta Parra, desconhecemos em grande parte Jorge Drexler, Kevin Johansen, Charly Garcia, Bersuit, Los Fabulosos Cadilacs, Patricio Rey e redonditos de ricota, Fito Paez, Julieta Venegas, Onda Vaga, Rene Ferrer, Lila Downs e tantos outros que minha infinita ignorância musical não me deixar numerar. Não temos Cumbia . Mas temos samba. E assim vamos de Beyonce em Beyonce, ignorando o resto do continente.  Algo chega à conta gotas, uma parceria com Caetano, Chico ou Lenine. É pouco. A verdade é que tem muito brasileiro ainda acha que musica latinoamericana é aquela versão de my Heart Will Go On da Celine Dion tocada com a flautinha andina irritante da feira hippie. No baila en tu cuerpo alegria Macarena…

Esta semana que passou estava vendo o grupo de Porto Rico Calle 13 triunfar nos Grammys Latinos (confesso que me encolhi de vergonha ao ver os indicados Brasileiros) e seguindo-os de perto no facebook. Eles passaram por aqui e eu perdi por falta de dimdim, mas dei uma passada de vista na turnê Latino Americana. Nenhum show no Brasil! Fiquei meio decepcionada.

O Calle 13 é um grupo espetacular que lançou recentemente um single –  de arrepiar  pelos em lugares que você nem imaginava que os tinha – chamado Latinoamérica ( com pequena participacao da Maria Rita!!!), um tributo a esta latinidade que, pelo menos para mim sinto latir cada dia mais como quando leio algum texto do escritor Uruguaio Eduardo Galeano. Além disso, tenho um lugar especial no meu coração que tem algo a dizer quando tem espaço. O Calle 13 está sempre envolvido com uma causa bacana, da qualidade da educação no continente a luta contra o tráfico de pessoas.

Este post é para isso, para quem não conhece ficar conhecendo o trabalho incrível dessa gente. Eu já tenho engatilhado meu par de maracas imaginarias. Adquira as suas e entre no meu concurso de Air Maracas! Esquece Lady Gaga.Atrevete!

Vai dar Cristina, duela a quien duela

23 out

 

O peronismo em peso.

 

O Bunker de guerra tava armado na redação. Mas, o clima era de total e paz tranqüilidade. Corre corre para dar conta de escrever as declarações de todos os sete candidatos a presidência da Argentina e suas verborragias antes de seus votos, mas fora isso nada que remotamente lembra a uma eleição presidencial em qualquer lugar do mundo.

A festa se armando.

Acontece que aqui, depois das primarias de agosto, onde ficou bem claro o apoio popular a presidente Cristina Kirchner, ninguém espera nenhuma surpresa. Cristina vai ganhar, quem não gosta dela vai reclamar, quem a curte vai ficar feliz e assim caminha a humanidade. Com a predileção argentina quase desportiva a reclamação generalizada, imaginei um domingo mais agitado na capital do país. Mas, parece que agitação mesmo só a festança que começa se armar na Plaza de Mayo. Passei por la na saída da redação e o circo estava armado. Turistas brasileiros perdidos aos montes, a juventude kirchnerista agitando o começo de festa, curiosos de mate em punho, crianças soturnamente alimentando pombos e até um velhinho doido já fazendo discurso.

Teve ate discurso do velhinho doido.

O climinha de já ganhou no ar. Falta a furgoneta branca das Madres de Mayo, a multidão peronista desaguar como inundação que vem do metro e Cristina sair à varanda da Casa Rosada falando da saudade que sente de Néstor. Sou a favor de Don t Cry for Argentina em ritmo de reggae animando a cálida tarde de primavera em Buenos Aires.  

Cartaz do lado da Casa Rosada.

Como o Lula, Cristina enfrentou a fúria dos jornais (inclusive os brasileiros) mais continua rainha absoluta da população Argentina, perdeu o marido em rede nacional, chorou em 10.000 discursos, mas continuou firme segurando as rédeas desta nação. A Argentina não é um país fácil; aqui as pessoas tem memória de elefante, opinião para tudo ( eu disse t-u-d-o), tendências messiânicas e são sindicalistas como um brasileiro é torcedor de futebol.

Mas, opiniões a parte, o fato é que vem mais quatro anos de CFK ai e como diria nosso Menem, Fernando Collor de Melo, em um momento que fez do mau portunhol uma arte, “duela a quien duela” ela tai por mais quatro anitos. PS: a expressão em espanhol é “caiga a quien caiga”.