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Cristina, que la sigan chupando…

24 out

As famosas e desbocadísimas declaracoes do Santo Argentino Diego Armando Maradona bem que podiam ter saido da boca de Cristina Fernández de Kirchner ontem. Mas, ela é fina demais para isso. Que la sigan chupando tem uma conotacao pouco erudita na Argentina, mas no Brasil eu sei que o negócio soa ainda pior.

Mas a verdade é que que quem nao gosta dela vai ter “seguir chupando” esta manga, senta que é de menta. Eu sinto muito, mas é chulo mesmo. Cristina ontem conseguiu uma vitória histórica com mais de 53% dos votos, em uma eleicao que poderia ter sido pulveridada pela enorme quantidade de candidatos, atingindo um dos maiores apoios populares a um lider que o país já viu. Para se ter idéia a melhor marca até entao havia sido de sua Santidade o Genral Juan domingo Perón, um icone que já deixou a categoria política para entrar no Olimpo sudaca.

La Nacion, pelo visto ja ta chupando...

Com a costumeira voz embargada, o vestuario negro – que Cristina adotou após a morte de seu marido Néstor – Cristina chegou ontem a uma Praca de Maio inundada de gente. Sempre a Praca de Maio como se a historia argentina se encontrasse pontualmente no mesmo lugar para acontecer.

Hoje pela manha felizes e amargos dividem o trem. Mas, ninguem teve que chupar tanto esta manga quanto os jornais. Principalmente, o Clarín e o La Nación. Dois dos maiores jornais argentinos. Nao deve parecer surpresa para um brasileiro que a imprensa esteja contra uma figura popular como Cristina. No Brasil, o Lula passava por um corredor polones midiatico diario enquanto desfrutava de niveis de aprovacao mais do que generosos.

Cronica nao está chupando.

Cristina comprou brigas historicas com o Clarin e ontem, em uma clara demonstracao politica o jornal La Nacion dizia em sua manchete: Cristina vai pelo poder. Hoje, para o jornal, ela havia conseguido o que queria. “ A presidenta, todo o poder”, em letras garrafais. Ame ou odeie Cris, ela nao é nenhuma ditadora, conta com apoio popular. O que pode sim ser questionado, ao meu ver, é o uso dos meios de comunicacao do Estado para propaganda. Mas, sinceramente, por as lentes brasileiras para analisar a midia Argentina é meio que colocar o Galvao Bueno para narrar uma tourada.

Clarín, o primeiro a chupar por quatro anos.

O sistema é outro. Se para o Obama Lula é “ o cara” aqui cristima é “o modelo”. Desde o peronismo Argentina sustenta esta predilecao a dinastias politicas. Nao é nepotismo é uma especie de escola do poder. O mérito de Cristina nao é apenas ter se reeleito é ter conseguido uma das maiores raridades na Argentina: certa unanimidade. Em um país cujas opinioes saem mais as ruas que as pessoas, os Argentinos parecem concordar em pouquissimos pontos. Aparentemente, Cristina é um deles. E para quem nao gosta dela nao resta outra se nao seguir “chupando” pelos proximos quatro anos…

PS: aqui na redacao eu disse desde o comeco que eu ainda escrever a manchete  “Ganó Cristina. PD: EL VICE PRESIDENTE ES UN BOMBONAZO!” *

*Ganhou Crisitna e o vice presidente é um gatao! Amado Boudou roqueirao de meia idade, tipo o gatao de meia idade mesmo, anda de moto, toca guitarra, usa jaqueta de couro, tem uma namorada 20 anos mais nova e deve deixar o Ministerio da Economia para se tornar o vice presidente mais hermoso da historia Argentina. Vai ser mais fácil nos olhos.

Cristina reeleita e blablabla, a boa noticia mesmo é Boudou.

Vai dar Cristina, duela a quien duela

23 out

 

O peronismo em peso.

 

O Bunker de guerra tava armado na redação. Mas, o clima era de total e paz tranqüilidade. Corre corre para dar conta de escrever as declarações de todos os sete candidatos a presidência da Argentina e suas verborragias antes de seus votos, mas fora isso nada que remotamente lembra a uma eleição presidencial em qualquer lugar do mundo.

A festa se armando.

Acontece que aqui, depois das primarias de agosto, onde ficou bem claro o apoio popular a presidente Cristina Kirchner, ninguém espera nenhuma surpresa. Cristina vai ganhar, quem não gosta dela vai reclamar, quem a curte vai ficar feliz e assim caminha a humanidade. Com a predileção argentina quase desportiva a reclamação generalizada, imaginei um domingo mais agitado na capital do país. Mas, parece que agitação mesmo só a festança que começa se armar na Plaza de Mayo. Passei por la na saída da redação e o circo estava armado. Turistas brasileiros perdidos aos montes, a juventude kirchnerista agitando o começo de festa, curiosos de mate em punho, crianças soturnamente alimentando pombos e até um velhinho doido já fazendo discurso.

Teve ate discurso do velhinho doido.

O climinha de já ganhou no ar. Falta a furgoneta branca das Madres de Mayo, a multidão peronista desaguar como inundação que vem do metro e Cristina sair à varanda da Casa Rosada falando da saudade que sente de Néstor. Sou a favor de Don t Cry for Argentina em ritmo de reggae animando a cálida tarde de primavera em Buenos Aires.  

Cartaz do lado da Casa Rosada.

Como o Lula, Cristina enfrentou a fúria dos jornais (inclusive os brasileiros) mais continua rainha absoluta da população Argentina, perdeu o marido em rede nacional, chorou em 10.000 discursos, mas continuou firme segurando as rédeas desta nação. A Argentina não é um país fácil; aqui as pessoas tem memória de elefante, opinião para tudo ( eu disse t-u-d-o), tendências messiânicas e são sindicalistas como um brasileiro é torcedor de futebol.

Mas, opiniões a parte, o fato é que vem mais quatro anos de CFK ai e como diria nosso Menem, Fernando Collor de Melo, em um momento que fez do mau portunhol uma arte, “duela a quien duela” ela tai por mais quatro anitos. PS: a expressão em espanhol é “caiga a quien caiga”.

Nós 4 e Dois Labradores

28 jan

 

Conheci o Fábio Nagel da maneira que se conhece a maioria das pessoas em Buenos Aires: de forma inusitada. Estava parada semi boquiaberta de frente ao mural de grafite que a vista da minha janela estava ganhando e ele estava de câmera em punho filmando o trabalho dos meninos que vieram por ocasião de uma mostra no Centro Cultural da Espanha. Não demorou muito começamos a conversar e descobrimos que éramos brasileiros, do ramo de comunicação e apaixonados por Buenos Aires. Ele me contou que veio a Capital, respirar novos ares com a família, mulher, filhos e labradores. Ontem, me mandou um vídeo que fez com sua tripulaçao que é pra lá de bacana. Um testemunho de amor á cidade, pequeno relato dos lugares que viu e esteve com sua trupe e uma excelente overview de alguns dos lugares e personagens mais emblemáticos de Buenos Aires. Vale muito à pena assistir. Obrigada a Fábio Nagel e sua família. No vídeo estão alguns dos lugares que eu adoro na cidade, como o Bodegón que ficava praticamente na esquina do meu apartamento, O Preferido de Palermo, o Palácio das Águas Corrientes ( meu antigo quintal de casa) e, nas cenas finais, meu bequinho da Rua Viamonte sendo grafitado. Muito bom!

Wi Fi World

29 nov

 Eu sei que isso vai soar super geek, mas eu sonho com um mundo todo Wi Fi zone. Pronto falei. Depois de passar muitos dias lindos de sol enfurnada em cafés enquanto as pessoas espreguiçavam-se nas praças como gatos felizes sob o sol – eu presa a minha conexão – vinha alimentando esse sonho. Se você mora longe de sua família, ou trabalha e estuda incessantemente como eu, entende do que eu estou falando. Com as temperaturas subindo, os dias ensolarados chegando depois de um longo inverno, Buenos Aires volta a ser uma cidade mais agradável do lado de fora que de dentro dos lugares. Apesar do calor, as pessoas vão encontrando mais e mais motivos para sentar-se nas praças e achar seu lugar ao sol. Por isso, quando soube que duas grandes empresas ( Gowex e Cablevisión) iriam transformar as principais praças da cidade em wi fi zones achei que isso merecia um post comemorando. A primeira praça será a Plaza Houssay, que fica em frente à faculdade de medicina, começando em meados de dezembro. Depois, os melhores espaços da cidade ganharão o serviço em uma adesão mês a mês até final de 2011. Pelo o que soube, minhas praças e parques preferidos estão na lista para tornar-se wi fi zone.

 
 

A praça da Faculdade de Medicina será a primeira a ganhar o serviço

 

Eu já me vejo brincando de skype, ligando e dizendo aos meus que estao longe dos dias que estão fazendo na cidade. Entre as Praças e espaços que serão wireless para o deleite dos internautas estão: Dorrego (Humberto 1° e Defensa); Plaza Serrano(Honduras e Serrano) Armenia; Angel Gris (Avellaneda eDonato Alvarez); plaza Arenales (Chivilcoy e Pareja); plaza Libertad (Paraguay y Libertad); parque Santojanni (Patrón eMartiniano Leguizamón); plaza Constitución; plaza Mariano Moreno (Rivadavia e Montevideo) ; plaza Rodríguez Peña (Callao e Paraguay; De la Democracia (De la Torre e Berón de Astrada); parque Avellaneda (Directorio e Lacarra); parque Chacabuco (Eva Perón e Curapaligüe); parque Lezama (Paseo Colón e Martín García); parque Lavalle (Libertad e Lavalle); plaza Belgrano (Juramento e Cuba); parque Saavedra (García del Río eMelián); Paseo de la Infanta (Libertador e Freyre); el Rosedal (Iraola e Infanta Isabel); parque Rivadavia (Rivadavia e Doblas); parque Centenario (Díaz Vélez e Marechal); plaza Martín Fierro (Urquiza e Barcala); Jardín Botánico (Santa Fe e República Arabe Siria); la Plaza de la República (9 de Julio e Corrientes); la Plaza de Mayo (Balcarce e Rivadavia) e parque Las Heras (Las Heras e Coronel Díaz). Muitos desses lugares são super turísticos (como a Plaza de Mayo, por exemplo) e os que não são deveriam entrar na lista pois são um must see! Agora, é rezar para que o wi fi venha com aumento de policiamento. Não está fácil andar com um lap top pelas ruas da cidade. Há momentos em que Buenos Aires parece Gotham city, sem o Batman…

Every Breath he takes

10 nov

Tomara que chova!

Meu primeiro impulso é chorar. Nos últimos tempos tenho sentido uma saudade imensa dos meus. Tanto que decidi por férias brasileiras começando no dia 05 de dezembro com passagem já comprada. Eu não contava com o anúncio de um show grátis, do Sting, na Plaza de Mayo, em um evento de Direitos Humanos, no dia 10 de dezembro. Que ironia! Eu querendo ir e o Sting dando o ar de sua graça. Desde a adolescência sou louca pelo cantor britânico, em Washington, cheguei a assediar um segurança calvo e esteticamente prejudicado para mudar de seção no estádio e acercar-me do ídolo. Colecionei fotos e discos, chorei muito com os hits do loirinho, suspirei com sua yoga, dancei em muita boate ao som do Police de olhinhos fechados e cantando. Tenho que me resignar a minha condição de bloggeira com milhagem emitida e deixar a dica aquiiiii!!!!! Não percam, mas também nem me contem. Sinceramente: tomara que chova!

 

Deixo aqui uma das minhas músicas favoritas:

Todos por Néstor

28 out

A cidade amanheceu com ares de normalidade. Um dia comum de trabalho apesar do luto nacional. O sol, vejam só, brilhando normalmente. Os comércios funcionando, as veias da metrópole, apesar de abertas, pulsantes. No meio da manhã as catracas do metrô já estavam abertas e concediam passagem gratuita a enorme multidão que se juntaria na Plaza de Mayo para o funeral. Nos vagões uma cena me lembrava uma velha fotografia da morte do presidente norte-americano, J.F Kennedy:  todos os passageiros sentados com os jornais abertos com a manchete catastrófica.  Pela primeira vez o senhor da banca não me olhou com curiosidade quando pedi uma edição de cada um dos principais diários, como faço habitualmente.

Pelo primeira vez, na banca de jornal, nao recibi olhadas curiosas do vendedor por comprar todos os jornais

Talvez, nas últimas décadas, não há episódio em que a Argentina se assemelhe tanto aos seus tangos.Talvez poucas vezes estivesse tão perto do ritmo musical trágico que hoje em dia não é nada mais do que o recordo nostálgico dos velhinhos e atração de turistas. Este país tão marcado por mães sem filhos, avós sem netos, desempregados sem teto, viúvas e desaparecidos volta adentrar sua melancolia histórica tão intimamente ligada a sua vida política. Durante todo o dia milhares de pessoas enfrentaram horas de fila ao sol para dar o ultimo adeus a Néstor Kirchner que era velado por sua mulher, filhos e amigos dentro de um salão da Casa Rosada. Cristina permaneceu todo tempo lá, alisando o caixão com suas mãos bem feitas recebendo Mujica, Rafael Correa, Evo Morales, Piñera, entre outros mandatários sul-americanos. Agradeceu ao público que entrava em ondas com a mão no coração e agüentou com dignidade a longa jornada.

As 19h45, um cantor de ópera, vindo da fila aberta ao público, entrou cantando “Ave Maria” agravando o cenário lúgubre.  No público há de tudo, veteranos das Malvinas, loucos, histéricos e até o grupo de deficientes Mundo Alas, que ganharam fama aqui graças a um documentário feito sobre eles. Artistas, apresentadores e celebridades locais também vieram prestar homenagens a Néstor e sua família.  Cristina, quando não agüentava passar incólume a comoção do povo, se levantava ia até a fila que circundava o caixão e cumprimentada um a um os mais emocionados,  tornando a cena ainda mais onírica. O silencio era quebrado por gritos de “fuerza Cristina” enquanto ela acenava em agradecimento.De uma estranha maneira, ao morrer, Néstor Kirchner realizou  seu último grande ato político em favor de sua viúva.

A cidade amanheceu cheia de cartazes de apoio

Seja  qual for sua opinião sobre a presidenta da Argentina, não há opção senão compadecer-se do sofrimento de uma mulher que perdeu seu companheiro de 35 anos e mentor político. É, neste momento, a viúva mais respaldada do sul deste continente, ganhando força política minuto a minuto. Enquanto na Plaza de Mayo milhares de pessoas choram juntas sua orfandade, uma volta por Palermo, onde vivo, revelou nada mais do que cenas cotidianas. No colégio do bairro as crianças saiam fantasiadas graças ao Halloween, velhinhos passeavam a lentos passos pelas ruas, casais tomavam sorvete nas esquinas. Não fossem os pequenos outdoors colocados a cada 50 metros com as fotos de Néstor e Cristina na cidade com os dizeres mais ouvidos nas últimas 48 horas – Fuerza Cristina – , era possível dizer que, pelo menos em Palermo, não morreu ninguém.

No Pg 12, Nestor deseja fuerza

Todos os canais locais e a CNN seguem com a cobertura non stop. Na C5N, uma das principais emissoras locais, as cenas do funeral são acompanhadas de uma música igualmente fúnebre dando ares cinematográficos ä viúva que sustenta olhos escuros e taller, impecável recebeu a Maradona. Chavéz fazia discurso no Aeroparque ( Aeroporto mais próximo da cidade), colunistas políticos já discutiam o destino da nação e os editoriais de La Nación e El Clarín lembravam que os Kirchners são melhores em manter o poder do que governar. Opiniões corajosas que desafiam uma nação profundamente consternada.  No Clarín, as matérias, no entanto, simpatizavam com o falecido, uma ultima ironia já que o ex-presidente  e o jornal o Clarín travaram batalhas históricas. No jornal de esquerda Página 12, um simpático cartoon de Néstor ocupava a toda a capa do diário com os dizeres ‘Fuerza todos”.

Dizem que Néstor morreu na exata hora em que nasceu sessenta anos antes. Que jantou com amigos e que a última imagem dele vivo foi tirada na sexta-feira por um simpático casal em um bar em Calafate, esta minúscula cidade na Província de Santa Cruz onde os Kirchners iam buscar paz nos fins de semana. Era diabético, cardíaco, não agüentava maiores caminhadas, nem uma pelada e que morreu em um segundo. Amanhã Néstor empreende sua última viagem rumo ao sul, onde será enterrado junto ao seu pai. Eu me abstenho de opiniões políticas, mas pelo o que está o centro de Buenos Aires nesse instante, para que Néstor se una ao pai todo uma nação deve aprender a se despedir do seu.  Fuerza Argentina!

Para acessar as notícias em tempo real:

http://www.infobae.com/adjunto/nestorkirchner/C5N_NK.html

A la plaza, para la despedida

28 out

Deixo aqui a versão em espanhol do texto sobre a  comoçao com a morte de Néstor Kirchner publicado está manhã no site Traducir Argentina. Para acessar clique AQUIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Na praça, por Cristina

28 out

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Com temperaturas amenas os fins de tarde de primavera em Buenos Aires se fazem cada dia mais agradáveis.

As pessoas enchem as praças com saudade do sol. Seria assim que a cidade despertaria da reclusão imposta pelo Censo Argentino não fosse a morte súbita de Néstor Kirchner que mudou o roteiro dos portenhos para uma só praça. Quando cheguei a Plaza de Mayo por volta do meio da tarde havia uma pequena multidão que se formava e um silencio esporadicamente interrompido por palmas e choros baixos. O pipoqueiro aproveitava para fazer uns trocados e uma grande fila já se formava para ascender à fachada da Casa Rosada. Ali começavam acumular-se flores e cartas. Uns cem metros antes a polícia já havia instalado um alambrado onde faixas e mensagens de despedida se aglomeravam.Quando o silencio se tornou demasiadamente incomodo as aglomerações de partidários peronistas e kirchneristas começaram a cantar a marcha peronista, um cântico que ia irradiando-se pela praça e que terminava em palmas.

Jornalistas afobados corriam seguidos dos passos confusos de seus câmeras , microfone em punho, abordando os transeuntes mais chorosos. Muita gente trazia os olhos mareados que quando encontravam um abraço deixavam-se molhar por completo. Algumas pessoas tapavam as bocas de incredulidade.  A grande maioria era de gente jovem, seguindo assim até a noite, claro testemunho da força da “juventud kirchnerista”. Como torcidas organizadas os grêmios sindicais indo ingressando á praça um a um sob aplausos dos presentes e cantos  próprios. Por volta das seis da tarde a praça deixava de ser uma alameda salpicada de gente para dar espaço a uma massa homogenia de gente e faixas que se voltava para o palácio presidencial. Muitas das faixas solidarizavam-se com a viúva e outras lembravam um dos maiores ícones da nação: o general Perón.

Evita ganhou um enorme boneco inflável e a pirâmide no centro da praça um enorme cartaz de Kirchner como o personagem de história em quadrinhos, o Eternauta, dando ao espetáculos ares pop arte.

No começo da noite, em uma das cenas mais comoventes da noite, chegaram as vans com as madres de mayo, já velhinhas, com os tradicionais lenços brancos na cabeça, acompanhadas de enorme comoção e da dignidade que lhes é solene. Elas prestavam homenagem ao homem que em um ato de repúdio a ditadura, que por muitos anos assolou o país, retirou os quadros de ditadores da Escuela de Mecánica de la Armada, coisa que não haviam feito seus antecessores democráticos. Muito antes da sapatada que recebeu o presidente norte americano George W. Bush, no Iraque, Kirchner já havia desbancado o mandatário durante a Cumbre de las Américas que se realizou em Mar del Plata, frustando o plano de Bush de implantar a ALCA na região, humilhando Bush que deixou o encontro irritado e brigado com Néstor.

Elegeu democraticamente sua mulher ( embora a Argentina sustente certas tendências nepotistas vide Isabelita Perón e Evita). O corpo de Néstor Kirchner será velado amanhã na sede do governo e   enterrado posteriormente em Calafate, junto aos restos mortais de seu pai. A demonstração que segue neste momento com milhares na Praça de Maio além de homenagem ao ex-presidente falecido na manhã de hoje é testemunho também de apoio popular a sua viúva, atual presidente da Argentina, um apoio que ela precisará nos duros tempos que a esperam. Deixo aqui imagens de uma nação chocada e comovida, impossível ficar imune a consternação coletiva.