No escurinho com Basquiat e Liniers

19 jun

Sou igual ao Pequeno Príncipe, se vejo um adulto vou logo pedindo: “Me desenho um carneiro?”. E estava ficando doente de vontade de ver o documentário sobre o Liniers. Mas, hei de confessar que se não fosse um amigo me arrastando, ficaria mais um dia na ignorância. Infelizmente, o documentário não está em muitos cinemas. E, o cinema mais conveniente para a gente ficava uma longa viagem de metrô, com baldeação, daqui, em Constituición. O equivalente á Central do Brasil de Buenos Aires. Longa talvez graças a minha ressaca, gripe e desanimo com a vida no dia de ontem.  

Chegamos uns dez minutinhos atrasados, eu e minha ressaca afundamos na poltrona. Quase não percebi que, além de nós dois, havia apenas mais três pessoas sentadas no fundo do cinema.  O filme, como Liniers, é uma gracinha. Os esforços da cineasta, que interage o tempo todo com o desenhista, Franca González, são mais que louváveis. São heróicos. Diante da resistência e timidez do protagonista ela é obrigada a tirá-lo com as próprias mãos das sombras.

Às vezes, ele demonstra relutância. Em outras instancias, ele parece envaidecido e a vontade frente às câmeras.

Alguém nao prestou atençao na aula hoje...

Admito que assisti o documentário com o cérebro recentemente flambado em Fernet con Coca, corpo em estado de convocatória para uma greve geral e pensamentos que vez e outra saiam da sala de cinema. Mas, sem grandes pretensões intelectuais, o documentário é tudo que imaginava e muito mais. Uma hora e meia de Liniers, seu mundo encantado, sua produção intensa, sua frenesi colorida é tudo que eu precisava.

A Bloggeira: eu sei que o nome disso é groupie!

Eu e minha vontade de ser Peggy Guggenheim nos imaginamos várias vezes assaltando o apartamento de Liniers e roubando suas “Cartas” aos amigos, livrinhos ilustrados que acabam de se tornar minha nova obsessão de mecenas. Não vou mentir, tenho uma paixonite por Liniers. Adoro gente esquisitinha. Gente que não se encaixa, que não está aqui, tem um pé em qualquer lugar que não este.

Me lembrou Basquiat!

Lembrou-me um pouco de Basquiat.  E da primeira vez que vi uma exposição dele em Nova York. A obra daquele negro, metade haitiano metade porto riquenho, tirava meu sono. Foi um dos primeiros grandes grafiteiros deste Rincón do mundo. Aquela coisa de viver de poesia, tinta e rua ainda me toca em lugares múltiplos de alma.

Nunca entendi como se juntou com gentinha como AndyWarhol, quem sempre achei uma bicha chata. Pronto falei. Morreu de overdose em 1988. Aposto que aquela gazela pop tem um dedo nisso!

Aposto que aquela bicha pop tem um dedo nisso!

Quando o filme terminou, e eu ainda preguiçava com sofreguidão para sair daquela enorme poltrona de veludo, vi a cara do meu amigo retorcer-se de vergonha e surpresa. Achei que estava “saludando” as outras três pessoas que bravamente haviam ido a Constituición numa quinta-feira à tarde para ver Liniers. Quando me dei conta que era a própria diretora, Franca González, engoli uma melancia em espanhol e travei a garganta. Como todos os anos estudados e falados de castelhano desapareceram, mal pude balbuciar o quanto gostamos da “película” dando aquela de mono brasileño, um mal que nos ataca quando estamos muito bêbados ou desprevenidos. Coisa que não acontece com os argentinos que, segundo um amigo porteño, acham que falam português quando estão borrachos.

Liniers es fueda!

Então, na ausência de desenvoltura na tarde de ontem, deixo aqui meu elogio. “Gracias Franca, por su fascinación por el dibujante Liniers, nos gustó muchísimo. La peli estaba bárbara, genial. Y, cuando puedas, dame las direcciones del Macanudo para que pueda contratarme unos chorros para róbale algunas pinturas. ¡Soy muy mala!”

Para ver Liniers:

Espacio Incaa KM 3 – Artecinema.  Calle Salta 1620. 

Martes a Viernes a las 17.00hs; Sabados y Domingos a las 17.30hs.

Espacio Incaa KM 2 – La Máscara. Calle Piedras 736. 

Todos los lunes a las 18hs.

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