Luxo nem Lixo

20 out

Vi ontem um bicho/Na imundície do pátio/Catando comida entre os detritos.Quando achava alguma coisa,Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade.O bicho não era um cão,Não era um gato, Não era um rato.O bicho, meu Deus, era um homem. ( Manuel Bandeira)

O lixo se acumulava, o cheiro era insuportavel, na calle 25 de mayo, esta manha, a passos da Casa Rosada, sede do governo

Em uma cidade de 15 milhões de habitantes, além da temida greve dos transportes públicos, que acontece apocalipticamente de quando em quando, duas paralisações levam ao caos uma metrópole: uma greve de coveiros ou de lixeiros.Enquanto os mortos continuam sendo enterrados nos Cemitérios de Chacarita, Recoleta, Avellaneda e tantos outros na província de Buenos Aires, o lixo, no entanto, segue sendo velado em plena rua. A cúpula da Coordinación Ecológica Area Metropolitana Sociedad del Estado (Ceamse) promete que restabelecerá com normalidade o serviço amanhã. Hoje, o cheiro nas ruas era moribundo, o governo estudava decretar emergência sanitária, e nos lembrava o tênue equilíbrio de funcionamento e convivência que supõe uma capital tão abarrotada de gente e, por conseqüência, de detritos. Há meses venho defendendo a cidade de minhas visitas que acusam a capital de suja enquanto pelas madrugadas via gente bem vestida disfarçadamente mexendo no lixo em busca sabe-se lá do que. É uma cena triste e soturna que já vi se repetir diversas vezes. O lixo deixado nas ruas, à espera de coleta, é vitima de saques dos cartoneiros, gente que vive do que outra gente joga fora, como num poema do Manuel Bandeira, o que faz com que pelas manhãs a cidade se pareça a um cenário de um filme de guerra. Enquanto isso, meu site argentino preferido, o Planeta Joy, anunciava uma feira de espumantes e champagnes para o dia 11 de novembro, no hotel Panamericano, com a participação de mais de trinta bodegas. São cenas de uma cidade que vive de luxo e lixo, convivendo lado a lado, como muitas metrópoles sul-americanas.

 

 

Uma resposta to “Luxo nem Lixo”

  1. Vivi 20 de outubro de 2010 às 2:20 AM #

    Ontem uma cena também nos impactou: uma mãe e seu bebê dormiam debaixo da marquise de uma concessionária de carros de luxo em plena Libertador. Do lado de dentro da loja repousava, tranquilamente, afastado do frio, o novo modelo da Mercedes Benz, ocupando vários metros quadrados quentinhos e protegidos!!! Loucura, não? O difícil é se situar no meio dessa contradição toda, vontade de sentar no meio-fio e chorar!

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